terça-feira, 15 de maio de 2012

Era Vargas – Estado Novo



Dado como um governo estabelecido por vias golpistas, o Estado Novo foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe comunista no Brasil. Para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Campos, aliado político de Getúlio, redigiu uma nova constituição inspirada por itens das constituições fascistas italiana e polonesa.


Entre os novos órgãos criados pelo governo, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) era responsável por controlar os meios de comunicação da época e propagandear uma imagem positiva do governo. 
Outro ponto importante da política varguista pode ser notado na relação entre o governo e as classes trabalhadoras. Tomado por uma orientação populista, o governo preocupava-se em obter o favor dos trabalhadores por meio de concessões e leis de amparo ao trabalhador. Tais medidas viriam a desmobilizar os movimentos sindicais da época. Suas ações eram controladas por leis que regulamentavam o seu campo de ação legal. Nessa época, os sindicatos transformaram-se em um espaço de divulgação da propaganda governista e seus líderes, representantes da ideologia varguista.


As ações paternalistas de Vargas, dirigidas às classes trabalhadoras, foram de fundamental importância para o crescimento da burguesia industrial da época. Ao conter o conflito de interesses dessas duas classes, Vargas dava condições para o amplo desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Além disso, o governo agia diretamente na economia realizando uma política de industrialização por substituição de importações.


Nessa política de substituições, o Estado seria responsável por apoiar o crescimento da indústria a partir da criação das indústrias de base. Tais indústrias dariam suporte para que os demais setores industriais se desenvolvessem, fornecendo importantes matérias-primas. Várias indústrias estatais e institutos de pesquisa foram criados no período. Entre as empresas estatais criadas por Vargas, podemos citar a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945).


Durante o ano de 1943, um documento intitulado Manifesto dos Mineiros, assinado por intelectuais e influentes figuras políticas, exigiu o fim do Estado Novo e a retomada da democracia. Acenando favoravelmente a essa reivindicação, Vargas criou uma emenda constitucional que permitia a criação de partidos políticos e anunciava novas eleições para 1945. Nesse meio tempo surgiram as seguintes representações partidárias: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrata (PSD), ambos redutos de apoio a Getúlio Vargas; a União Democrática Nacional (UDN), agremiação de direita opositora de Vargas; e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que saiu da ilegalidade decretada por Getúlio.


Em 1945, as medidas tomadas pelo governo faziam da saída de Vargas um fato inevitável. Os que eram contrários a essa possibilidade, organizaram-se no chamado Movimento Queremista. Empunhados pelo lema “Queremos Getúlio!”, seus participantes defendiam a continuidade do governo de Vargas. Mesmo contando com vários setores favoráveis à sua permanência, inclusive de esquerda, Getúlio aceitou passivamente a deposição, liderada por militares, em setembro daquele ano.


Dessa maneira, Getúlio Vargas pretendeu conservar uma imagem política positiva. Aceitando o golpe, ele passou a ideia de que era um líder político favorável ao regime democrático. Essa estratégia e o amplo apoio popular, ainda renderam a ele um mandato como senador, entre 1945 e 1951, e o retorno democrático ao posto presidencial, em 1951.
O Rádio na Era Vargas
Durante a Era Vargas foi criado a hora do Brasil, programa político no rádio o qual fala sobre a política brasileira existente até hoje, Getúlio Vargas tinha um horário somente para ele no qual ele falava sobre os feitos dele e suas pretensões para o futuro do Brasil, todas as suas falas na verdade eram gravações que ele alternava em serem apresentadas
O Brasil nas telas de cinema
O cinema também foi um dos meios de comunicação que participaram desse esforço concentrado. Alguns filmes eram essencialmente nacionalistas, exaltando figuras históricas ou fazendo apologia à política forte de Vargas, para muitos, necessária naquele contexto histórico e econômico.


Sempre que Vargas se apresentava em público, filmava-se o acontecimento, para que a cena pudesse ser repetida pelo país todo pelos cines-jornais, filmes curtos que destacavam as realizações do regime e eram exibidos nos cinemas antes do filme principal. Os cines-jornais moldaram fortemente a percepção de todo brasileiro de renda acima do nível de subsistência, porque os cinemas cobriam o país inteiro e traziam o mundo exterior até seus freqüentadores.


A aproximação do presidente com a classe cinematográfica se deu tanto em relação aos produtores, financiando filmes e viabilizando através de leis a obrigatoriedade da exibição de filmes de curta-metragem, quanto com os técnicos, regulamentando a profissão, permitindo um campo de trabalho com alguma estabilidade.


Com o apoio do governo, a indústria cinematográfica, até então deficitária, pôde equilibrar-se. Alguns cineastas batalharam para fazer do Estado o grande mecenas do cinema brasileiro, reivindicando, portanto, que ele desempenhasse um papel ativo e protetor dessa atividade cultural para fazer frente ao cinema norte-americano, muito bem situado no mercado brasileiro. Atendendo aos apelos da classe, o governo decretou, em 1932, a lei de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais. Com o apoio de Vargas, a indústria cinematográfica, até então deficitária, conseguiu equilibrar-se. Getúlio Vargas foi considerado pela categoria beneficiada como o "pai do cinema brasileiro".


Essa lei possibilitou que muitos cineastas pudessem realizar seus filmes sonhados a partir da sobra de material e recursos que eram liberados para o cine-jornal e da cobertura constante das obras e ações do Presidente. O cinema era utilizado amplamente para fazer de Vargas um homem verdadeiramente conhecido em todos os pontos do país. A sua imagem, quase sempre sorridente, despertava no povo a esperança de dias melhores e projetava para o povo a idéia de que ele encarnava de fato o "Pai dos Pobres". Essa idéia tornou-se consenso, sobretudo entre as classes populares formadas por uma multidão de homens e mulheres simples do povo, operários e demais trabalhadores urbanos.


O cinema recebeu especial atenção porque nessa época a imagem passou a ser considerada como instrumento importante para a conquista das massas. Os ideólogos do Estado Novo e o próprio Vargas demonstraram grande interesse nesse campo. O governante concebia o cinema como veículo de instrução e, nesse sentido, declarou "o cine será o livro de imagens luminosas em que nossas populações praieiras e rurais aprenderão a amar o Brasil. Para a massa de analfabetos, será a disciplina pedagógica mais perfeita e fácil".


Apostava-se num veículo que pudesse alcançar a grande massa, nos mais recônditos espaços do território brasileiro, levando uma "verdade" que, para muitos, sem o desenvolvimento da escrita e da leitura, tornavam-se muito receptivos às mensagens, aos slogans e, sobretudo, às imagens que chegavam pelas telas de exibição dos filmes.




Em um discurso, proferido em julho de 1934, numa manifestação de apoio ao seu governo, realizada pela Associação Brasileira de Produtores cinematográficos, Getúlio Vargas reafirmava a importância e o papel fundamental que o cinema desempenharia durante seu governo em relação à educação estética e valorativo do povo brasileiro.


O DIP, praticamente não interferiu nessas produções no que tange a questões ideológicas. Uma ou outra intervenção acontecia quando achavam que o teor de sensualidade ultrapassava o permitido. A censura era muito maior em relação aos valores do que em relação às situações criticadas ou formação de opinião contra as ações do executivo. Até porque, esses filmes, direta ou indiretamente, durante o Governo Vargas, sempre tiveram relação respeitosa com o presidente, mantendo-o fora do eixo de críticas, e quando o mesmo era referendado, a atitude era, quase na totalidade das vezes, laudatória e de aceitação assim como se estivessem perdoando por qualquer problema ou assinando em baixo sua carta de intenções.
Essa união entre público, artistas de cinema, o Poder Executivo e seus braços, poucas vezes foi vista em nossa história. A ajuda do Governo, criando leis protecionistas e legalizando a profissão de técnicos da indústria cinematográfica, gerava uma atitude parcimoniosa e de grande respeito. A produção do cine-jornal e dos filmes (poucos, mas expressivos) épicos, educativos afinava-se com a idéia de educação das massas, buscada por alguns setores do DIP e do Ministério da Educação.
Rádios , revistas e jornais descrevem Getúlio Vargas
Poucos governantes brasileiros souberam utilizar a imprensa como Getúlio Vargas. Rádios, cinemas, jornais e revistas estiveram a seu serviço. Principalmente no seu primeiro governo, o político gaúcho contou com o auxílio destes veículos da comunicação e fez-se "onipresente".
Contudo, nada garantia mais a presença de Vargas do que o rádio. Meio de comunicação mais expansivo da época, era por esse Orfeu Moderno que o presidente "conversava" com o povo, "adentrando" assim as residências da população.


Ao ligar o aparelho, o ouvinte que buscava um pouco de entretenimento e informação, nos intervalos de uma radionovela, ou do programa de música preferido, ouvia o presidente que, pouco a pouco, tornava-se presença marcante no rádio
Para Nicolau Sevcenko, Vargas explorou o rádio com astúcia singular. Esse autor observa que: "os dois rituais básicos da nova ordem eram o discurso presidencial de 1º de maio no estádio São Januário e o noticiário diário da Voz do Brasil, ambos assentados sobre este mesmo nexo simbólico, a voz dramatizante de Vargas, irradiada, recebida e incorporada como expressão de ânimus profundo da nação".


Através do rádio o regime garantia a presença cotidiana do ditador entre os brasileiros. Nisto o programa Hora do Brasil era ferramenta valiosa. Com o rádio, o ideal de Vargas onipresente tornava-se mais viável. A caixinha sonora trabalhava para disseminar a imagem onipresente de Vargas pelo país. Alcir Lenharo relaciona tal estratégia à influência nazista, afirmando: "a estratégia radialista do Estado Novo parece acompanhar as pegadas deixadas por Hitler, para quem a palavra falada, não a escrita, tinha sido a responsável principalmente pelas grandes transformações históricas".


Embora não contasse com uma rede tão ampla quanto a alemã, Vargas estava sempre no rádio. Com maior garbo, em datas como o 1° de maio, o 19 de abril (seu aniversário), 10 de novembro (aniversário do regime) e festas cívicas como o 7 de setembro e o 15 de novembro.
No que tange às revistas, Getúlio aparecia em diversas, praticando as diferentes atividades: cavalgando, discursando, ao lado de estudantes, distribuindo utensílios agrícolas a índios, no Jóquei Clube do Rio de Janeiro, em carro aberto, no Círculo Operário, em bailes, peças de teatro e desfiles.


A presença de Getúlio Vargas nos jornais também era grande. Através de subvenções que às vezes atingiam 70% do material publicado, o DIP fazia a imagem do presidente circular pelos periódicos brasileiros. Havia até mesmo notas pagas em Jornais do exterior.


Controlava-se o papel importado, vital para os jornais. Quem publicasse notícias desagradáveis ao regime corria o risco de ficar sem a matéria-prima. As notas dos jornais eram distribuídas pela Agência Nacional, vinculada à Divisão de Imprensa do DIP. Como no rádio, observa-se uma diversidade considerável de temas: passeios, palestras, inaugurações etc.


Nas revistas o presidente estadonovista exerce os papéis mais diversos. Em Reportagens, revista do DIP, Vargas é um estadista exemplar. Aparece entre estudantes, entre empresários, mas também entre operários. Eram muitas as publicações com a presença do ditador. Pátria, por exemplo, revista gaúcha elaborada por militares, apresenta diversas capas com Vargas.
Numa época em que os jornalistas são chamados de covardes por seu próprio presidente, num tempo em que se cogita criar um "Conselho" para "orientar, disciplinar e fiscalizar" o jornalismo é impossível não sentir o velho calafrio. Sempre é bom lembrar que o DIP (o conselho antigo) tinha como obrigação "coordenar, orientar e centralizar a propaganda interna e externa; fazer censura a teatro, cinema, funções esportivas; organizar manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, concertos e conferências". Covarde mesmo é quem não admite críticas e, bebendo no autoritarismo do passado, procura suprimir questionamentos. Vargas e suas estratégias, mais do que nunca, estão atualíssimos.